Um estranho povo com cabeças humanas e corpos de serpente parecem estar entre as lendas mais antigas do mundo. Desse povo, deuses e imperadores nasceram. Suas histórias são contadas não somente em livros antigos de literatura, mas também pela arqueologia.
No Museu da Província de Shaanxi existe uma pequena estatueta de argila encontrada nas escavações de um túmulo antigo que causou um rebuliço interessante no mundo arqueológico quando foi descoberta em 1978. Na cabeça, um rosto delicado e até sorridente de uma mulher com um sorriso no rosto, sobrancelhas bem desenhadas e um longo cabelo preso escorrendo pelas costas. Mas com uma pequena diferença: seus cabelos escorrem pelo que parece ser o corpo de uma serpente.
Com 21cm, essa estátua e argila parece ter sido feita durante a Dinastia Song (960 - 1279), mas a história que ela conta data de muito antes desse período.
Chineses antigos contam histórias de como seres humanos evoluíram para seres híbridos antes de chegarem a ser o que somos hoje. Algumas escavações em túmulos de outra província, Nanjing, revelam objetos de uma espécie de ser humano aquático, mesclado com peixes e seres marinhos. Esse “povo” teria sido, segundo lendas antigas, a pré-evolução do homem-serpente.
Dois dos primeiros deuses antigos, Nüwa e Fuxi, que criaram seres humanos e desenvolveram projetos de sociedade, eram dessa estranha e fascinante forma híbrida.
A origem das lendas sobre esses povos antigos vêm da própria criação das pessoas “à imagem e semelhança” desses deuses. O mistério sobre de onde eles vieram e quais são seus antepassados existe porque os livros religiosos dizem somente que “seu povo havia sido dissipado da terra completamente, sobrando somente os dois”, (que, aliás, eram irmãos).
E o que sabemos sobre as lendas desses seres metade humanos metade animais que viveram na terra há milhares de anos?
É um dos últimos deuses de linhagem imperial e sangue real traçada desde Nüwa e Fuxi. De cabelos longos e vermelhos, Gongong ainda é adorado hoje por algumas minorias étnicas e lembrado como uma ponte entre nós e nossos antepassados sagrados.
Sendo assim, o totem mais antigo de um “ser humano” que se tem conhecimento na China, é justamente de um ser humano mesclado com alguma criatura aquática, seja ela serpente, peixes ou animais marinhos. Mas o fascínio criativo dessas crenças não para por aí.
Cabeças humanas em corpos de serpentes (人首蛇身) dividiam a terra com outros tipos estranhos, como o povo com cabeça de touro (牛首人身).
Parece ser o ancestral mais antigo do povo-touro. Diz a lenda que ele nasceu diretamente de um povo que tinha cabeça de dragão e seria o primeiro a ter nascido metade touro.
Depois dele vem uma junção entre touro e pássaro, um totem especial já que pássaros eram considerados sagrados na China antiga.
Um dos líderes da tribo de Yandi e foi especial por também ter asas e poder voar, o que o ajudou muito em batalhas contra tribos vizinhas que o tornaram um famoso general de guerra.
Também um deus antigo, tinha o que parecia ser uma cabeça humana normal com olhos felinos cortantes que crescia do corpo de um tigre. Sua função era manter a ordem no império.
Representa um povo que tinha cabeça de gente em corpo de pássaros (人首鸟身). Ela sempre aparece com duas cobras em seus pés, simbolizando seu poder de dominação sobre outros animais.
Também é um deus antigo que faz parte desse povo. O interessante fato sobre a lenda de Gou Mang é que ele é o filho mais velho de Fu Xi, justamente o representante do totem da serpente. Ele havia aprendido sobre o adestramento de dragões e usava dois deles para se locomover pelos céus.
Foi um deus do povo-cavalo difícil de ser controlado e de obedecer a ordens. Encarregado de cuidar dos jardins do palácio real, ele frequentemente abandonava suas funções para galopar pelo mundo. Com padrões de tigre sobre seu corpo, Ying Zhao ainda possuía asas, o que facilitava seu amor por aventuras.
Essas histórias sobre seres humanos híbridos e deuses antigos alimentaram por milhares de anos o fascínio pela natureza e a criação de totens que representassem diferentes tribos que compartilhavam a mesma terra.
A adoração e os rituais a esses seres definiam quem você era em um mundo cheio de diversidade e povos desconhecidos. E as lendas de como nós evoluímos de povos híbridos também trazem um denominador comum entre ser humano e natureza, que sempre foram inseparáveis na visão de mundo chinesa.