A Tradição Literária Chinesa

A Tradição Literária Chinesa

Por
Calebe Guerra
em
10/7/2023

A técnica de impressão de livros usando uma prancha de madeira é chamada de Impressão por Xilogravura e foi inventada na China no sétimo século da nossa era, durante a Dinastia Tang 唐朝. Essa técnica continuou sendo o método de impressão de livros mais comum no oriente asiático até o século 19. Muito antes disso, porém, os chineses já imprimiam livros manualmente em tecidos, bambu e papel. 

Xilogravura
Xilogravura
Aplicações da técnica de xilogravura

Os pedaços de escrita mais antigos da escrita Chinesa são encontrados em ossos de animais selvagens e cascos de tartaruga que datam dos últimos três séculos da Dinastia Shang 商朝 (século 18 - 12 a.C.). Esses escritos registram a prática da adivinhação usada pela corte imperial para prever eventos futuros. Essas inscrições, contudo, geralmente muito curtas, não podem ser consideradas como obras literárias. O que podemos dizer sobre essas escritas são que sua forma de escrita é ancestral direta da escrita moderna. Daquela época, cerca de 3.400 ideogramas foram encontrados, dos quais 2.000 já foram decifrados.

É a partir do século 11 a.C., durante a Dinastia Zhou 周朝, que encontramos histórias da mitologia chinesa sendo incorporadas em textos. 

Durante os períodos antigos do Império Chinês, a forte ênfase na educação, especialmente entre a elite confucionista, significou um interesse generalizado na produção em larga escala de livros. Esse interesse em usar a literatura como ferramenta de ensino contribuiu para a criação da rica tradição literária da China e continua existindo até hoje. 

Sutra do Diamante, Dinastia Tang, o texto impresso mais antigo do mundo,  (868 A.C)

A Influência Literária Chinesa

A primeira antologia de poesia chinesa é conhecida como Shijing 诗经 e traz canções folclóricas antigas compiladas por Confúcio 孔子 (551 - 479 a.C.) em um único livro. Todos os 305 poemas do Shijing foram originalmente cantados e acompanhados por música e, alguns deles (especialmente canções do templo ou para sacrifícios cerimoniais) também foram acompanhados por dança. A maioria desses poemas tem sua forma predominantemente lírica falando sobre dificuldades do serviço militar, festividades sazonais, tarefas agrícolas ou cenas rurais de amor e coração partido. A linguagem dos poemas é bem próxima da fala cotidiana das pessoas comuns, e mesmo repetidas tentativas de refinamento durante o processo de escolha dos poemas não estragaram seu frescor e espontaneidade. 

Confúcio dava uma ênfase significativa à poesia porque acreditava que “poesia é instrução” 诗教, dizendo que o valor e a glória literária está na sua força político-pedagógica. O imperador só entenderá as necessidade do povo se tiver conhecimento literário o suficiente e ser versátil na arte da poesia, e o povo só se tornará responsável e harmonioso se for exposto à mesma fonte de conhecimento. 

Livro de poesias

Dessa forma, Confúcio e seus discípulos acreditavam que todas as áreas do conhecimento (filosofia, política, ética, ciência, etc.) eram ensinadas e aprendidas pela forma poética de criar e consumir literatura. 

Libai (701 - 762 d.C.) escrevendo poemas 

Com todo esse esforço pedagógico, a literatura chinesa é uma das maiores heranças literárias do mundo, com uma história de produção literária de mais de 3.000 anos ininterruptos. É por isso que a língua chinesa manteve sua identidade inconfundivelmente preservada, tanto em aspectos de fala quanto de escrita. 

Diferentemente da função de registrar palavras em uma língua alfabética, os ideogramas chineses não são indicadores primários de sons e podem, portanto, ser pronunciados de maneiras diferentes para acomodar diversidades geográficas na fala sem prejudicar em nada o significado da palavra escrita. Como resultado, os principais dialetos da China nunca se desenvolveram em línguas escritas separadas (como aconteceu com as línguas românicas). 

Embora um leitor de um clássico confucionista no sul da China possa não entender a fala cotidiana de alguém do extremo norte, a literatura chinesa continuou a ser registrada, distribuída e entendida da mesma forma para todos, em benefício comum do povo. 

Por meio de contatos culturais, a literatura chinesa influenciou profundamente as tradições literárias de vários países asiáticos, particularmente a Coréia, Japão e Vietnã. Nesses países, até mesmo a escrita chinesa (os ideogramas) foi adotada como linguagem escrita e, até pelo menos o século 20, a principal fonte de conteúdo literário desses países também era a China.