Divindades antigas e a origem do ser humano

Divindades antigas e a origem do ser humano

Por
Calebe Guerra
em
14/8/2023

Os primeiros deuses antigos são sobreviventes de um grande dilúvio.

Nüwa, a deusa criadora, e Fuxi são irmãos que sobreviveram a uma catástrofe cósmica. De acordo com a mitologia chinesa, antes mesmo dos seres humanos existirem, deuses e animais místicos já viviam na terra. 

Mas algo aconteceu e muito se perdeu, sobrando a deusa Nüwa e seu irmão, Fuxi. E isso apresentou-se como um dilema para os dois. A terra precisava ser repovoada, reciclada e reabitada. As histórias contadas diferem um pouco, mas Nüwa ficou conhecida como a deusa criadora dos seres humanos e Fuxi o criador da cultura:

Nüwa, deusa criadora

“Diz a lenda que após o céu e a terra se afastarem, 

não havia seres humanos. 

Nü Wa ajuntou barro amarelo para fazê-los com suas próprias mãos.  

Um projeto muito importante, sem tempo para perder.

Assim, ela pegou uma corda e mergulhou-a no barro.

Agitando a corda no ar velozmente,

seres humanos iam sendo criados com o barro que respingava no chão.

Os que foram criados por suas mãos são Imperadores. 

Os que vieram da corda, são os seres humanos elementares.”

Após criar os seres humanos, houve uma batalha entre dois deuses antigos, o deus do trovão e o deus do fogo. Essa luta criou buracos no céu, de onde água começou a cair torrencialmente. 

A deusa Nüwa, para salvar a sua criação, sai pelas montanhas altas do mundo coletando pedras grandes para remendar o céu. Por fim, quando somente um buraco faltava para ser tapado, não haviam mais pedras. Nüwa, então, coloca seu próprio corpo na fissura e faz cessar as águas. Ela era adorada tanto criadora como salvadora da humanidade.

Fuxi, o deus da cultura 

“No começo, não havia ordem social. As pessoas conheciam suas mães, porém nunca seus pais. Quando famintos, saíam por comida; quando satisfeitos, jogavam fora os restos. Ao comer animais, devoravam tudo com sangue, couro e pelos. Então veio Fuxi, olhou para cima e contemplou a ordem dos astros no céu. Assim, uniu marido e mulher, estabeleceu regras para a humanidade e concebeu os Oito Trigramas (I Ching), a fim de reinar sobre o mundo.”

Fuxi ensinou aos seres humanos métodos de caça, pesca e os ensinou a cozinhar os alimentos. Mostrou como se fazia redes de pesca, armas feitas com osso, madeira ou bambu e também instituiu a estrutura familiar e o casamento. 

Tradicionalmente, Fuxi é considerado também o criador do I Ching 易经, cuja obra é atribuída à sua leitura do Mapa do Rio Amarelo. De acordo com essa tradição, Fuxi teve o arranjo dos trigramas do I Ching revelado a ele nas marcas nas costas de um mítico cavalo dragão (às vezes considerado uma tartaruga) que emergiu do rio. Este arranjo precede a compilação do I Ching durante a dinastia Zhou. Diz-se que esta descoberta deu origem à caligrafia.

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Dragão, deus da transformação 

O Dragão é um dos símbolos mais antigos de divindades encontradas na China. Visto como um símbolo de equilíbrio e justiça, o Dragão também era conhecido como a divindade das transformações. Entre o Yin e o Yang, o Dragão era a força conciliadora. 

Deus das chuvas e das águas, vivendo no mar, muitas comunidades de pescadores adoravam a figura do dragão que controlava as chuvas necessárias para a colheita. Ele também significa a independência do ser humano. Ao olhar as transformações do Dragão, seres humanos começaram a aprender a evoluir e criar por si mesmos, fazendo as coisas através da lógica e do raciocínio, e não somente da forma como foram ensinados por Fuxi. 

📷 xiaohongshu: 9595601151

ShangDi, deus da lei e da ordem 

ShangDi era o deus da lei, ordem e justiça. Ele também é conhecido como o Imperador Jade e considerado o ancestral de todos os chineses. Aquele que deu ao povo arquitetura, habilidade de batalha e organização social. Ele era adorado principalmente durante a dinastia Shang (1600 - 1046 a.C), e deu também origem ao conceito de Mandato Divino do Imperador, pilar para o sistema feudal chinês. 

ShangDi foi a primeira divindade chinesa adorada como “única”. Shang 上 significa “alto”, “mais alto”, “primeiro”, “primordial”.  Di 帝, seu nome, refere-se ao título de “divindade” e virou título para “imperador” em várias dinastias posteriores. A divindade precedeu o título e os imperadores da China receberam seu nome em seu papel como Tianzi 天子, os filhos do céu. Nos textos clássicos, a concepção mais elevada dos céus é frequentemente identificada com Shang Di, que é descrito de forma um tanto antropomórfica.