Festival do Duplo Nove (números importam)

Festival do Duplo Nove (números importam)

Por
Calebe Guerra
em
10/10/2022

Números importam. Pitágoras já dizia que “o princípio de tudo é o número”, e de fato, existem pesquisas que partem para descobrir se a matemática é, de fato, a realidade de tudo. Como se os objetos que existem, como mesas e cadeiras, fossem feitos não de partículas, mas de números.

Mas seria difícil conhecer os números como pesquisadores da matemática fazem. Então seguimos o caminho de Blaise Pascal, físico, matemático e filósofo francês, que dizia para seus alunos irem buscar "em outro lugar alguém que os acompanhe em suas pesquisas sobre os números. Da minha parte, confesso que eles estão além de mim, e sou competente somente para admirá-los”.

No começo desse mês, no dia 4, aconteceu na China o Festival do Duplo Nove (重阳节). Apesar de pouco celebrado (suas festividades não chegam nem perto do tamanho das que acontecem no Festival do Meio-Outono em setembro), a consideração chinesa pela poesia singela que os números formam é muito interessante.

A origem desse Festival tão antigo quanto a idade de Cristo, é justificada pelo livro Yi Jing (易经) quando diz que o número nove tem muita energia de Yang (阳气), por isso é um número bom, um número vivo.

O dia 4 do décimo mês é, na verdade, o nono dia do mês nove do calendário lunar usado pelos chineses. 99 (九九) forma então o dia onde ciclos se fecham e histórias se completam. E por que o número 9 é tão estimado assim?

Nove é considerado um número do “extremo apropriado”. Ele é o mais longe que você consegue ir na "completude" das coisas sem cair no perigo do excesso.

Funciona assim:

Dez (10) representa o completo. Uma expressão chinesa para “completo e belo” ou “perfeito” é 十全十美, que significa literalmente “dez completo, dez belo” ou “dez vezes completo, dez vezes belo”.

Mas, juntamente com essa ideia, existe a modéstia chinesa que busca sempre saber os limites de tudo. Por exemplo, tem um provérbio que diz que “um copo de água cheio, derrama” (水满则溢). A ideia é que tudo o que chega no limite (no extremo), imediatamente começa a se perder na direção oposta (物极必反).


Sendo assim, o nove simboliza o “extremo apropriado” onde você pode chegar sem medo de se exceder. Um copo cheio ao extremo dez (10) se torna tão perigoso de ser carregado que enchê-lo somente até à nona parte é um caminho mais seguro. E estar nove décimos cheio significa que ainda há espaço para subir, ascender e evoluir. Ou seja, está completo de uma forma que não o torna estático.

Durante o Festival do Duplo Nove, chineses gostam de praticar hiking, por exemplo. Subir montanhas é uma forma de manter viva na cabeça a ideia de que há sempre lugar para ascender.

O Festival nos lembra, portanto, que números importam. Não somente porque o universo é feito deles, mas porque muita sabedoria também pode ser exemplificada nos diversos significados que somente os números conseguem traduzir.