“Quanto tempo tem a lua? Faço essa pergunta brindando vinho ao vasto céu, sem saber em que ano repousará o crepúsculo de hoje sobre o Palácio Celestial.” 明月几时有，把酒问青天。不知天上宫阙，今夕是何年。 Su Shi 苏轼 "
No dia 10 de setembro (15º dia do 8º mês do calendário lunar) será comemorado o Festival do Meio-Outono que, também chamado de Festival da Lua.
Sendo uma festividade com raízes profundas na cultura campesina, o objetivo da data é a celebração feita com oferendas à Lua pela boa colheita do outono.
A Lua, lugar de mistérios e possibilidades, sempre foi objeto de especulação pelos chineses. Assim como o poema de Su Shi, existem muitas lendas falando a respeito da lua, especialmente sobre o Palácio da Lua 月宫 (ou Palácio Lunar).
Três lendas antigas nos ajudam a compreender a fascinação com o astro e o espírito de devoção que ganha vida nessa data tão especial.
Chang’e vai para a lua 嫦娥奔月
Chang’e era esposa de Hou Yi, um arqueiro que estabeleceu um nome para si após controlar uma rebelião de sóis. Antigamente havia dez sóis que se revezavam diariamente sobre o céu, até que eles se revoltaram com a ordem imposta e subiram juntos ao céu criando seca, calor intenso e devastação. Hou Yi, então, saiu caçando os rebeldes até sobrar um só (o que temos hoje), restabelecendo a ordem da natureza.
Como recompensa por tamanho feito heróico, a deusa Rainha Mãe do Ocidente 西王母 deu a ele o elixir da imortalidade. O arqueiro, entretanto, decide não tomá-lo pois queria viver com sua amada esposa Chang’e.
As versões da lenda diferem muito sobre o que fez com que Chang’e simplesmente tomasse o elixir da imortalidade. Alguns dizem que foi um ato de desespero ao ver que um de seus vizinhos havia entrado na casa para roubá-lo enquanto Hou Yi não estava, mas outras versões dizem que foi a curiosidade de Chang’e que a levou a fazer isto.
Fato é que, ao tomar o elixir da imortalidade, Chang’e começa a flutuar e vai parar na lua - no Palácio da Lua, onde imortais vivem.
Dar oferendas à lua e fazer pedidos à ela se tornou, então, hábito de Hou Yi e costume popular de todos que se sensibilizaram com a separação eterna do casal.
Wu Gang corta o Loureiro 吴刚折桂
Wu Gang era um homem que estava em treinamento para se tornar imortal. Até que um dia cometeu um delito (ou pecado) e então foi enviado à lua para sofrer penitência. A punição? cortar o Loureiro da lua. O problema? Quanto mais Wu Gang cortava a árvore, mais ela crescia.
O Coelho de Jade 玉兔
Há duas versões sobre a lenda do Coelho de Jade.
Alguns dizem que Chang’e desobedeceu as regras do Imperador de Jade (Imperador da Lua) e recebeu como punição ser transformada em um Coelho de Jade e trabalhar amassando ervas medicinais toda vez que a lua estiver cheia.
Mas há outra versão para a história do coelho:
Quando três imortais decidiram vir à terra para provar a bondade dos animais, eles se transformaram em mendigos e foram pedir comida para a raposa, o macaco e o coelho. Tendo sido rejeitados pela raposa e pelo macaco, o coelho prometeu que teria o que dividir com eles e, tendo os três preparado fogo para cozinhar o alimento, o pequeno animal pula no fogo dizendo que servirá com sua própria carne à fome dos três andarilhos.
Emocionados pelo gesto do coelho, eles deram um lugar a ele no Palácio da Lua onde ele pôde servir de companhia à solitária Chang’e e, também, servir na preparação do elixir da imortalidade.
Alguns dos nomes para a “lua” em mandarim, por exemplo, é “Coelho de Jade”.
Todas essas lendas sustentam mistérios infindáveis sobre a lua e ajudam a alimentar o fascínio milenar com a possibilidade da vida não terminar aqui.
As histórias, poesias e canções folclóricas relembradas no Festival da Lua tem uma coisa em comum: o desejo de manter os olhos acima de tudo o que experimentamos só no mundo dos viventes.
E a celebração é sobre isso. Manter viva a esperança de que nossas vidas fazem parte da ordem dos astros e do universo e que ela vai muito além disto aqui.
Feliz dia da Lua!
