O Festival Qingming (que neste ano acontece no dia 5 de abril), também conhecido como "o dia da limpeza dos túmulos", tem suas raízes nos primórdios da civilização chinesa, misturando o culto aos ancestrais e ofertas à primavera. Não é exagero dizer que esse é o Festival (também feriado nacional) mais importante dedicado aos antepassados.
Por acontecer antes do começo do verão, que decretará o fim da primavera, é comum que os túmulos estejam cobertos por folhagens e flores caídas, especialmente após o período chuvoso das últimas semanas. Limpar os túmulos de entes queridos é, portanto, uma grande expressão de cuidado e atenção.
Acredita-se que, a partir do dia de hoje, a natureza começa a expirar ares velhos e inspirar os novos (吐故纳新) , deixando o que passou para trás e trazendo novidade de vida. Por isso é costume dos chineses saírem hoje de suas casas não só para limpar e cuidar dos túmulos de seus antigos familiares, mas também para estar em contato com a natureza.
Lenda de origem
A origem oficial do Festival Qingming está em um outro festival chamado "Festival da comida fria" (寒食节), que era celebrado desde centenas de anos ans de Cristo em memória de Jie Zitui (介子推 - 6 século a.C), um seguidor e conselheiro fiel do Duque Wen de Jin (晋文公). Diz a lenda que, antes de ver seu mestre se tornar Duque e em um momento de perigo e fome, Jie Zitui cortou pedaços da sua própria perna para alimentá-lo e salvá-lo da morte.
Anos após os acontecimentos que marcaram a vida dos dois, Wen, agora Duque de Jin, quis recompensar seu companheiro pelo esforço em mantê-lo vivo, porém ele se recusou a aceitar qualquer tipo de cargo no governo. Nessa época, ele já vivia com sua mãe em uma cabana na floresta, recluso da sociedade. Não aceitando a resposta de Jie Zitui, o Duque manda por fogo ao redor da floresta para "espantá-lo de lá" e obrigá-lo a vir para fora. Plano que deu errado e acabou matando seu amigo e sua mãe, queimados no incêndio que saiu do controle.
Arrependido, o Duque Jin de Wen decidiu erguer uma torre (pagoda antiga) em homenagem a Jie Zitui e decretrou o festival em sua memória.
Hoje
O mesmo espírito ainda mantém-se vivo nessa data.
Chineses, um povo de cultura histórica e muito afeiçoados do passado, carregam ainda hoje a data como marco importante para relembrar o sacrifício que antepassados tiveram que passar para que eles estejam vivos hoje.
É uma forma de enxergar-se no centro da história, pelo fator tempo, sem estar desconectado do passado que fez possível você chegar até aqui.
É por causa desse marco histórico a ser relembrado que chineses (e diásporas) hoje estão limpando e cuidando de túmulos e deixando oferendas aos acestrais, mas não só isso.
Famílias saem em campos abertos para jogar, soltar pipa, fazer picnic, estar com a família e relembrar que, mesmo diante da morte, a vida é digna de ser celebrada.