De um futuro distante, Vicky recorda eventos dos relacionamentos que ela viveu com dois homens na Taipei dos anos 2000. Suas inseguranças e frustrações ressonam em sintonia com a esperança e o fascínio da mudança de ares do tempo, marcado pela a virada de era para um novo milênio
Ainda que Millenium Mambo não seja necessariamente um filme de fácil assimilação em virtude de sua direção mais artística, voltada para a introspecção das personagens em detrimento de um roteiro mais embasado, ele pode ser uma boa porta de entrada para explorar as obras do diretor Hou Hsiao-Hsien, considerado um dos pais do movimento New Wave do cinema taiwanês.
Algumas das características estilísticas do diretor, como a utilização de takes longos com pouco ou nenhum corte e o enquadramento em planos abertos podem parecer estranhas aos olhos de muitos espectadores. E naturalmente, uma reação comum é a de tédio. Acostumados a um certo dinamismo de edição presente em boa parte do modo de se fazer cinema no ocidente, a ambientação do espectador a um filme de Hsien traz, entretanto, grandes recompensas; Uma maior identificação com as personagens, ou, quem sabe, a oportunidade de explorar a bela cinematografia com mais atenção.
Alguns dos temas explorados pelo diretor — como a melancolia e a angústia de pessoas vivendo à margem da sociedade, presas a situações na qual encontram-se sem perspectivas diante da passagem inexorável do tempo — se aproximam aos trabalhos de outros grandes nomes do cinema asiático, como Wong kar-wai na temática e Jia Zhangke no plano técnico, com seu cinema documental.