“山林川谷丘陵能出云,为风雨,见怪物,皆为神”
《礼记·祭法》
Montanhas, florestas, rios, vales, colinas e tudo o que pode ser mencionado.
Pelo vento e através da chuva, observando seres e monstros,
Todos são Shen (deus).
O Clássico dos Ritos
Bom, um mito da criação é uma história fantástica que busca explicar as origens do universo, do mundo e da vida humana. Cada povo e cultura tem a sua versão de como as coisas vieram a ser como são. Na China, essas histórias são conhecidas como Shen hua 神话.
Shen, significa “deus”, “divindade”, “ser imortal” ou pode significar até mesmo “sobrenatural", “mágico”. A parte mística das histórias.
Um dos livros mais antigos chineses, compilação geográfica de mitos, deuses e animais fantásticos. Naquela época, a cosmovisão vigente era a de que a terra plana, quadrada e o céu debruçava-se sobre montanhas e rios como um domo pendurado no céu.
E existe uma história para explicar como a formação da terra e do céu se deu dessa forma.
Em um dos mitos de criação mais antigos do mundo, Pangu nasce entre o céu e a terra, ainda antes de serem divididos, como um nascimento “em um ovo de galinha”. Pangu então foi crescendo, crescendo e, aos poucos, criando espaço para expandir-se dentro do caos ao redor.
“Por milhares de anos, céu e terra foram se separando.
Yang (energia do dia), puro e leve, tornou-se céu.
Yin (energia da noite), turvo e pesado tornou-se terra.
Pan Gu estava entre eles.
Em um dia, se transformava infinitas vezes.
O céu transformou-se em Shen (deus)
e a terra transformou-se em Sheng (sagrada).”
O mundo como conhecemos veio da transformação de Pangu.
Conforme ele foi empurrando, crescendo entre o céu e a terra, Pangu também se enfraquecia e envelhecia. Quando a separação entre os dois estava terminada, o próprio corpo de Pangu se transforma nas montanhas e seus cabelos se transformam nos oceanos e nos rios.
Tudo o que vemos e o mundo onde existimos é Pangu.
É por isso que “Montanhas, florestas, rios, vales, colinas e tudo o que pode ser mencionado. Pelo vento e através da chuva, observando seres e monstros, todos são deus”.
Shan Hai Jing, O Clássico das Montanhas e Rios, é uma compilação de todos os animais fantásticos e as feras selvagens que foram criados a partir do corpo de Pangu. Eles fazem parte de tudo o que primeiro evoluiu a partir do corpo de Pangu. Uma das primeiras fontes sobre a Fênix, famosa no mundo todo, vem desse livro. Muitos seres sagrados, místicos, nasceram nesse período quando os seres humanos ainda não caminhavam pela terra.
É por isso que o mundo natural é visto de forma sagrada.
Tudo o que existe é mágico e sagrado, porque vem do próprio corpo daquele que dividiu o céu da terra e se transformou em montanhas e rios, possibilitando a vida. É o contato com o mundo natural, a conexão com o corpo de Pangu, que torna tudo o que existe sagrado.
É por isso que montanhas e rios também são “deus” na mitologia chinesa.
Por exemplo, um “ser imortal”, na tradição chinesa, também é conhecido como Xian 仙, ou seja, uma “pessoa na montanha”. Não alguém que “subiu aos céus” ou “desapareceu nas nuvens”, mas alguém que se isolou nas montanhas, que se encontrou no corpo de Pangu, junto com todos os seres imortais e animais fantásticos que existem por lá.