Em todas as culturas, é comum que nomes tenham significados singelos e poéticos. Na China, a história por trás de como os nomes são escolhidos também traz imagens escondidas em detalhes imperceptíveis.
A atriz chinesa Yan Danchen é um ótimo exemplo. Yan (颜) significa cor; dan (丹) é um tom de vermelho alaranjado; chen (晨) é a alvorada. A imagem invocada no nome da artista é um dia raiando em tons avermelhados de cores quentes. A calmaria do cenário aparece viva na construção de como ela é chamada.
Além de paisagens, alguns nomes contam histórias. A Cantora Liu Xijun tem um desses nomes que evocam uma emoção. Xi (惜) significa apreciar, gostar, estimar; Jun (君) significa cavalheiro. É difícil saber ao certo os pormenores da escolha desse nome, mas fica claro que seus pais esperavam que Liu crescesse para ser amável e que desejavam que ela tivesse um bom casamento.
Mas a escolha de nomes não acontece de forma aleatória. Desde o período antigo na China, nome e sobrenome carregam informações importantes sobre quem a pessoa é, de onde ela veio, sua posição na sociedade, no clã e na família, e também sonhos e desejos que seus pais e avós tinham quando a planejaram.
E essa história por trás das histórias contadas nos nomes chineses.
| SOBRENOMES
Antigamente, os chineses tinham dois tipos de sobrenomes: o xing (姓) e o shi (氏). Xing servia de marcação de status do/no clã, enquanto Shi classificava o próprio clã como um tudo. Um detalhe, contudo, é que o uso de sobrenomes era reservado à realeza. Somente homens e mulheres de linhagem real tinham direito a serem identificados por sobrenomes.
· sobrenome xing 姓
O sobrenome Xing 姓, por exemplo, enquanto a mulher esperava para se casar, era o nome do seu clã. Qi Jiang 齐姜, é um exemplo. Jiang, nome próprio de uma mulher, e Qi, o nome do seu estado/clã. Após casar-se com alguém de outro clã (já que na China antiga era proibido pessoas com o mesmo sobrenome serem dadas ao casamento), ela abandonava o sobrenome do seu clã e tomava, então, o nome do estado de onde o seu esposo era.
Outra coisa interessante sobre sobrenomes Xing 姓 é que eles podiam mudar depois da morte. Um novo título era adicionado no lugar de acordo com alguma característica da pessoa ou função que ela exercia enquanto estava viva. Assim, era possível após sua morte identificar se ela teria se aprimorado nas artes marciais (武 wu), em concursos públicos (共 gong), ou até mesmo em literatura e academia (文 wen).
· sobrenome shi 氏
Shi 氏 geralmente traduzia todo o histórico de conquistas do clã, bem como a demarcação territorial da família. Era comum transformar nomes de lugares em sobrenomes Shi para o uso do clã que se estabeleceu por ali. Os estados mais comuns que viraram grandes sobrenomes da China antiga eram Qi 齐, Zhen 郑, Cai 蔡, Song 宋, dentre outros.
E é curioso que até demarcações geográficas de dentro ou dos arredores das cidades viravam sobrenome. Dongmen (东门), que significa “portão oeste”, Beiguo (北郭), “muro norte” e Baili (百里) “num raio de centenas de kilômetros” eram sobrenomes comuns na antiguidade.
Para funcionários públicos (especialmente os que conseguiram entrar fazendo a prova mas não tinham famílias conhecidas), a sua função no império também podia virar seu sobrenome e o de sua família. Bu (卜), “conselheiro/adivinho”; Sima (司马), “ministro de guerra”; e até mesmo Yue (乐), “músico”, todas essas funções simbolizavam até mesmo a ascenção social de alguém, portanto, eram dignas de serem cunhadas como o sobrenome desses funcionários.
Com o tempo, os sobrenomes Xing e Shi foram se tornando uma coisa só. E por eles, histórias eram contadas. Conquistas territoriais, guerras por poder, casamentos políticos, tudo poderia ser traduzido em uma história contada no sobrenome das pessoas. Ao conhecer alguém e saber seu sobrenome, um perfil completo da pessoa era apresentado.
E essas informações eram tão importantes para os chineses que não demorou muito para que sobrenomes se tornassem algo comum a todos, não somente algo do imperador e da realeza.