Para chegar na comunidade Mosuo, na província de Yunnan, no sudoeste da China, primeiro é preciso aterrizar na cidade de Lijiang, antiga rota comercial de chás. De lá, embarca-se num jipe que percorrerá uma congestionada trilha - não de carros, mas de cabras cruzando a estrada em busca de pasto fresco - por cerca de 7 horas até se avistar a espetacular vista do lago Lugu, onipresente na cultura Musuo desde sua fundação, milhares de anos atrás.
O que mais impressiona nessa minoria étinica de cerca de 40 mil pessoas, entretanto, não é o idílico local escohido para viver, mas sim, a forma como sua sociedade está organizada. As Mosuo são uma das últimas sociedades matriarcais no planeta. E não apenas isto: elas se organizam de maneira matrilínea, isto é, a transmissão familiar se dá exclusivamente pela linha materna.
A palavra "pai" não existe na língua Mosuo. A palavra "divórcio" também não, tampouco a palavra "órfão", dado que toda organização familiar é centrada na figura da mulher, que cria seus filhos dentro da célula matriarcal chefiada pela avó. Os tios maternos também vivem na mesma casa, e auxiliam na criação das crianças. E engana-se quem pensa que a mulher fica resignada à tarefas domésticas. Totalmente auto-suficientes, elas trabalham o tempo todo, todo ano, nas mais diversas atividades de plantio e criação de animais, enquanto, ainda, criam os filhos.
Uma das coisas mais fascinantes da cultura Mosuo é a sua forma de amar, manifestada, principalmente, no conceito de "sese", que infelizmente não encontra tradução, mas que pode ser caracterizado como "casamento andando". Porém, na verdade não existem casamentos na sociedade Musuo. A prerrogativa por uma relação mais íntima sempre é da mulher, que escolhe seu pretendente sinalizando discretamente à seu par em um dos diversos eventos sociais que ocorrem durante o ano.
Uma vez manifestado esse interesse, o homem é convidado a visitá-la durante a madrugada, num cômodo exclusivo e separado da casa, onde eles irão ter relações, e ao amanhecer, ele já terá partido. Uma relação 'sese' pode durar uma vida toda; ou pode se encerrar numa noite. E, caso haja gravidez, a criança fruto desse relacionamento só terá vínculo com a família materna.
Esta dinâmica familiar parece exótica até mesmo à grande parte da população chinesa, Han em sua maioria. Recentemente, uma onda de interesse pela cultura Mosuo garantiu uma escalada no turismo da região. Diariamente, dezenas de turistas visitam o entorno do lago Lugu a fim de aguçar sua curiosidade sobre a cultura Mosuo.
Apesar de não ser a única sociedade matriarcal da história, a minoria Mosuo é certamente uma das últimas. E uma que sobreviveu a inúmeros testes em sua História, como por exemplo, as invasões Mongóis do século XIII, às reformas de Mao, e hoje, às inúmeras inovações tecnológicas que parecem polarizar cada vez mais as sociedades modernas. Sendo assim, cabe a pergunta: qual será o elemento que mantém esta cultura intacta há milhares de anos? 🤷
Referências:
Livro: "The Kingdom of Women", de Choo Waihong