A história de Xuan Zang 玄奘, o maior dos monges budistas chineses, remonta ao ano de 627 d.C.
No outono daquele ano, uma geada inesperada destruiu todas as colheitas na planície de Guanzhong 广州, e a dinastia Tang 唐代 estava recém-fundada, sem reservas adequadas de alimentos para lidar com a fome que resultou da geada.
Sem alternativas, as portas da capital do império, Chang'an 长安, foram abertas, permitindo que o povo fugisse em busca de sobrevivência. Entre os que buscavam refúgio, havia um jovem monge, e esse era Xuan Zang. Ele buscou refúgio em Chang’an, onde passou boa parte de sua juventude.
Ao deixar a capital novamente, Xuan Zang o fez não para escapar da fome, mas com o objetivo de chegar à índia, o lugar de nascimento do Buda. E foi aos 26 anos que ele iniciou uma jornada solitária, embarcando em um feito épico na história do intercâmbio da civilização humana.
Nascido na província de Henan, no segundo ano do reinado do Imperador Wen de Sui 隋文帝 (602 d.C.), Xuan Zang veio de uma linhagem de funcionários públicos. Seu pai, ao evitar os tumultos do final da dinastia Sui, renunciou ao cargo e voltou para sua cidade natal, dedicando-se ao estudo de antigas escrituras.
Durante a juventude de Xuan Zang, a família enfrentou adversidades, com a morte sucessiva de seus pais. Foi nessa época que ele se juntou ao Mosteiro Jing Tu 净土 (Mosteiro da Terra Sagrada), na cidade de Luoyang 洛阳 com seu irmão mais velho, tornando-se monge, onde se concentrou no estudo de textos sagrados.
Com raízes sólidas na filosofia confucionista e uma disposição para a pesquisa acadêmica, ele avançou cada vez mais no estudo do budismo. Quando adulto, viajou extensivamente, visitando monges e sábios ilustres da época. Os líderes budistas de Chang'an, como Fachang e Sengbian, o chamavam de "o corcel das mil léguas do Budismo".
No entanto, Xuan Zang vivia intrigado sobre a natureza do Buda, a possibilidade de mortais atingirem a iluminação e as divergências entre as diversas seitas budistas. Isso o levou a decidir viajar para o oeste em busca da verdadeira essência do budismo na Índia.
Então, Xuan Zang propôs a viagem ao ocidente com outros monges afins, submetendo um pedido à corte. No entanto, devido à instabilidade nas fronteiras, o pedido foi negado, pois o império Tang se preparava para um conflito com os turcos. Embora outros monges tenham recuado, Xuan Zang permaneceu inabalável em sua determinação.
Assim, o jovem monge partiu sozinho, misturando-se aos refugiados, "violando os decretos imperiais" para seguir em direção à Índia.
O "Registro do Mestre Tripitaka" descreve que, quando Xuan Zang era criança, sua mãe teve um sonho no qual ele usava roupas brancas, montava um cavalo branco e partia para o oeste. Quando ela perguntou para onde ele estava indo, Xuan Zang respondeu que estava indo ao oeste para buscar os ensinamentos. Destino predestinado, talvez?
No entanto, na realidade, a jornada de Xuan Zang para o oeste não foi nada parecida com a elegância de um príncipe em um cavalo branco, mas sim uma jornada exaustiva e diária tentando sobreviver e muitas vezes evitando por pouco os tantos editais de procuração do próprio governo que o perseguia.
É difícil imaginar como Xuan Zang, um monge, conseguiu atravessar as fortalezas nas fronteiras. O caminho para fora da fronteira estava cheio de perigos, e qualquer captura significaria a pena de morte. No entanto, estranhamente, Xuan Zang sempre conseguia evitar esses perigos.
Na primeira década da Dinastia Tang na Rota da Seda, havia inúmeros países grandes e pequenos. Segundo o "Registro do Grande Tang sobre o Ocidente", Xuan Zang passou por 110 países, até que, superando as dificuldades, chegou à Nalanda, no norte de Bihar, na índia, sua terra sagrada, no ano de 631.
Após mais de uma década, em 643, ele iniciou sua jornada de volta para casa, atravessando o Rio Indo mais uma vez e escalando o Platô Pamir mais uma vez, repetindo a jornada árdua.
Depois de retornar a Chang'an, Xuan Zang iniciou a tradução dos sutras budistas que havia trazido da índia e escreveu o "Registro do Grande Tang sobre o Ocidente" conforme as instruções do Imperador. Este trabalho, concluído em 646, foi dedicado ao imperador não para bajulação, mas para obter apoio à propagação do budismo na China.
Os novos imperadores Taizong e Gaozong respeitavam Xuan Zang, estabelecendo o Instituto de Tradução sob sua direção, onde foram traduzidos sutras e construídos o Grande Templo da Compaixão 大慈恩寺 e a A Pagoda do Grande Ganso Selvagem 大雁塔, que permanecem em Xi'an até hoje.
A história de Xuan Zang revela um jovem monge devoto, um viajante corajoso, um estudioso dedicado e um construtor influente. Sua reputação elevou termos como "monge Tang", "Mestre da Tripitaka", a títulos exclusivos de Xuan Zang.
Na mente dos chineses, Xuan Zang foi um jovem monge precoce e devoto ao Buda; com olhar firme, olhando para o oeste; um viajante que atravessa desertos e escala montanhas cobertas de neve; um monge eloquente e respeitado; um dedicado tradutor que trabalha incansavelmente; um arquiteto que construiu até um Templo e uma Pagoda…
Servindo de inspiração e modelo de coragem até os dias de hoje.